quarta-feira, 19 de maio de 2010
Vilarinho das Furnas, do Grupo IF
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Os “Sinais” subtis de Peter Granser
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Daily Pilgrins, de Virgílio Ferreira
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Arcelino: retrato de uma cidade
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
"No Parking + Portobello" de 8 de Novembro a 31 de Dezembro
No Parking
No Parking é um projecto de fotografia e video realizado em 2001 durante uma estadia de três meses em Tóquio com uma bolsa da Fundação Oriente. Em 2004 foi editado o livro (No Parking, POC Editions. França). A exposição no Museu da Imagem de Braga teve o apoio da EPSON.
(…) As fotografias de No Parking são
cuidadosamente compostas em função de elementos constitutivos da paisagem urbana (edifícios, estradas, ruas, passagens para peões, linhas de metro à superfície, etc.) que reforçam a abstracção gráfica e dão um carácter estático às imagens. Porque os fios eléctricos que riscam o céu ou se acumulam no cimo dos postes eléctricos, o desenho no solo das passagens de peões que travam o movimento dos transeuntes, as estruturas em betão que sustentam as linhas de um monorail que desenha no espaço um duplo “S” alongado, as centenas de janelas que parecem carimbos pacientemente aplicados sobre a fachada de um edifício, são todos sinais que apontam para uma leitura geométrica do espaço urbano. Como se se tratasse de colocar uma grelha, ou de pousar uma tela sobre o espaço e de construir um terreno de experiências visuais onde elementos móveis estão prestes a entrar em cena. Como uma teia de aranha à espera de apanhar uma presa na sua armadilha. Ou como as linhas de pauta de música onde se inscrevem as notas e as marcações dos tempos: o presto para indicar os passos rápidos de uma pessoa que atravessa a rua enquanto outra caminha andante à sua frente, o rallentando de uma pessoa que sobe um lanço de escadas, o moderato de duas raparigas de uniforme que passeiam com as mãos atrás das costas, o allegro ma non troppo de jovens que atravessam uma esquina onde incidem os últimos raios de luz do dia. Podemos assim dizer que o título desta série tem o seu significado numa ligeira modificação de percepção, pois não se trata tanto de uma interdição de paragem (no parking) mas do prolongar do movimento (keep moving). (…)
- David-Alexandre Guéniot
O projecto “Portobello” reúne, na sua totalidade, cerca de 70 fotografias. Foi realizado ao longo de várias visitas no Algarve entre 2005 e
“Portobello” teve o apoio da Direcção Geral das Artes/Ministério da Cultura e da EPSON Portugal.
“As fotografias de Portobello mostram-nos como uma realidade se apresenta a si mesma tal como deseja existir, quer dizer, tal como se representa e se demonstra aos outros. As pessoas, as paisagens fotografadas participam, enquanto sujeitos e objectos, de uma iconografia pré-existente. O que vemos nestas fotografias são pessoas que são ao mesmo tempo actores e espectadores (de si mesmas), mas também pessoas e personagens, tal como as paisagens são ao mesmo tempo paisagens e cenários, tal como a realidade é ao mesmo tempo real e encenada, quer dizer, construída a partir de ficções (políticas, económicas, sociais, urbanísticas, paisagísticas, estéticas). Neste sentido, Portobello é um mundo real ficcionado. (…) Um mundo cujas personagens (os figurantes) parecem ter sido colocadas sobre um fundo de telas pintadas que imediatamente se desmoronam nas suas costas. Um mundo de cenários permutáveis (o que se passa aqui poderia passar-se em qualquer outro lado), em que a profundidade de campo mais não é do que um espaço propício ao aparecimento de miragens. Portobello, nome genérico que evoca um vago exotismo latino, cidade ou região (italiana? espanhola? corsa? portuguesa? brasileira? mexicana?), hotel ou discoteca em que imaginamos o interior fora de moda e o néon sobre a fachada, ou um cocktail colorido (ilustrado por uma foto) numa lista de bebidas (…)."
- David-Alexandre Guéniot (extractos do texto "PortobelloTM" publicado no livro "Portobello" de Patrícia Almeida.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
"SURFACES"
Christine Canetti
2 a 24 Fevereiro de 2008
A condição de artista plástica – diz Rui Prata – confere-lhe uma liberdade e um estatuto distinto na utilização do suporte, construção que se encontra mais afastada do olhar fotográfico para mergulhar num universo de uma estrutura mais mental e conceptual.
À luz desta gramática fotográfica, o projecto “Surfaces” – adianta aquele programador artístico – contém um conjunto diversificado de elementos característicos daquele meio de representação: luz, cor, realidade fragmentada, forma, escala e composição.
Diz Rui Prata que algumas texturas das rochas sedimentares convidam a imaginação a descobrir antropomorfismos ou figuras que nos evocam um universo de formas mágicas.
Do mesmo modo, podemos remeter essas texturas para metáforas do envelhecimento humano, em que a própria rugosidade da superfície é comparável à textura da pele.
Nas fotografias dos bosques – enfatiza Prata – a fragmentação e os reflexos conduzem-nos a falsas realidades, a um universo onírico.
Christine Canetti nasceu em França em 1959, tendo frequentado, além da École Nationale des Arts Appliqués (Paris), a Faculdade de Artes Plásticas. Desde 1983 que tem participado em exposições colectivas e individuais, quer em França, quer em países europeus, como nos Estados Unidos da América. Em Portugal, destaca-se a sua participação na exposição “Au Fil de L’Eau”, realizada em 1998 no Museu da Electricidade (Lisboa).As suas obras integram diversas colecções privadas e públicas, designadamente o acervo de “Fonds National d’Art Contemporaine”.
Mais informação:
Museu da Imagem, Campo das Hortas, 35/37 - 4700.421 Braga - 253 278 633
ou www.euran.com/christinecanetti.htm
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
"DEBAIXO DA PELÍCULA MOSTRA-ME O TEU PÍXEL"
Ana Luandina, Sílvia Simões, Margarida Paiva, Rita Castro Neves, Teresa Sá e Paula Abreu
«A arte sobre a arte das mulheres é tão aborrecida como a arte dos homens sobre a arte masculina» (Rosemarie Trockel)
Pensar sobre o colectivo reunido para a presente exposição quando são artistas com trabalhos individuais seleccionados independentemente de considerações de parceria, deixa-nos mediante um questionamento. O de que podemos ignorar o facto de transportarem todas elas à nascença o cromossoma X em duplicado – porque afinal, caros, o XX não se trata de uma anomalia cromossomática, mas de uma probabilidade, e ao que parece hoje bem mais frequente que a XY- e, sendo assim nada a dizer, nem do feminino, nem do mulherio, nem da homofobia, etc. etc. portanto consideramo-las como os demais e não queremos sentirmo-nos a mais, nem à parte delas. Ou não ignoramos o facto de serem ainda pouco notadas qualitativamente as mulheres nas artes, com em outros campos e áreas do trabalho – porque afinal, caros, elas são bem notadas quantitativamente nos índices demográficos da população mundial e bem como na acumulação de múltiplas funções e papeis na sociedade – e, colocando-me eu também entre elas, tomamos em consideração este momento expositivo para o acrescentar como um apontamento relevante e a reflectir sobre mulheres cuja arte é neste caso o acto de fotografar.
Considerando que é pela linguagem das palavras e não só pelas imagens fotográficas que a inscrição da memória invisível dos momentos passageiros permite que estes ganhem forma e substância cultural, fazendo multiplicar os campos de visionamento e leitura, resolvi neste breve texto assumir uma posição intermédia quanto aos aspectos do questionamento levantados. Face às posições extremas de ignorar ou notar, de sarcasmo ou predilecção, enfim, canseiras úteis mas longas e extenuantes como o comprovam cem anos de discussões e debates, teorias e ensaios, associações e comitivas, e demais instrumentos, estratégias e modos de luta pelo lugar da mulher no mundo cabe-nos agora pensar, questionar e equacionar um mundo no qual as mulheres fazem parte integrante e inquestionável. Não são “especiais”, são mulheres. É o que fazem que é especial e é do domínio de cada uma. Portugal, é por seu turno um outro elemento comum mas também circunstancial, os trabalhos de Ana Luandina, Sílvia Simões, Margarida Paiva, Rita Castro Neves, Teresa Sá, Paula Abreu não são apontados por serem portugueses e não se querem demarcar por isso, trata-se do contexto de inscrição que corresponde ao momento da criação e/ou da sua apresentação, sendo que a circunscrição territorial não aparece aqui tratada formal ou conceptualmente nas suas obras.
A exposição organiza-se, portanto, segundo critérios que permitem encontrar e construir diálogos de uns trabalhos com outros, sem os cingir à sua singularidade mas em simultâneo demarcando as idiossincracias próprias de cada artista expostas num local e num momento comum.
I look at an image, what I see in that image has only to do with me and, when I show you the same image, you receive some other emotion which relates to your concerns and life experience. You see in that image another story and we could talk for hours about what we see, and we might never touch each other. Everybody interprets an art work in their own way and this gives it richness. Everybody's interpretation, even if it's only minimal, makes the work complete. The different readings of an art work shape its density. (Marie-Jo Lafontaine)
Ana Luandina, Sílvia Simões, Margarida Paiva, Rita Castro Neves, Teresa Sá e Paula Abreu são os nomes das artistas com trabalhos distintos seleccionados para uma exposição centrada na fotografia e, num sentido mais amplo, na imagem, que vos propomos descobrirem e abordarem. A descoberta, através do olhar e da memória, entre a nossa experiência e a delas lembra-nos que o que se pode dizer e sentir de uma imagem tem de ser primeiro visto e perscrutado. A abordagem, faz-nos deparar com uma mostra simultânea, no espaço e no tempo, de diversidade imagética. Duas estratégias de enunciação se ressaltam: começamos por reconhecer o trabalho individual de cada uma mediante breves indicadores de referência, e esperar que o envolvimento de cada um de nós, na nossa experiência da memória e do ver, construa a relação significante; e para finalizar vamos destacar o colectivo, enquanto exposição conjunta, evidenciando o facto comum de serem todas mulheres e com uma criação contextualizada na arte portuguesa contemporânea recente. Espera-se de uma exposição que ela nos permita revelar algo do mistério da imagem, que nos conte um pouco dos segredos do olhar dos outros, que nos faça sentir cúmplices dessa magia, ora o encantamento neste caso requer um contexto, uma vontade e alguns sinais. Temos um Museu da Imagem, os trabalhos de seis Artistas e um texto de Orientação.
Ana Luandina mostra-nos imagens de mistério, de suspensão, aproximamo-nos, permite-nos perceber uma linha, uma divisão, entre o dentro e o fora, alguém que respira profundamente… uma fotografia em que o olhar imerge e submerge tão de perto que se sente essa respiração. A presença do corpo sem se anular é no entanto imaterial, imiscui-se numa paisagem de alusões e fantasmas, feita de uma realidade etérea, virtual, em que tudo parece possível sem o ser.
Sílvia Simões através de um processo digital remete-nos para uma experiência visualmente mais plástica mas utilizando um meio fotográfico, o scanner. O confronto com uma fobia, ou uma sensação de pânico, que nos pode suscitar um corpo submerso na “água”. A expressividade das emoções é revelada pela distorção do meio, em que o movimento, o gesto, que transfigura a realidade, nos sugere o que não se vê mas se sente e se pode imaginar.
Margarida Paiva enuncia verbos e expressões linguísticas de lugar como, esconder, perseguir, andar, escapar, perder-se, encontrar-se, longe e perto, aqui e ali. Temos vontade de perguntar para onde vamos? O trabalho desta artista sugere-nos um voyerismo fabulado e fantasiado sobre momentos interiores próprios da existência humana mas vistos do exterior. Sem excessos visuais mas pelo contrário mediante uma simplicidade teatral capaz de nos surpreender e comover toca-nos no íntimo reconhecimento de serem lugares que dizem “passa-se algo aí, com aquela pessoa”.
Rita Castro Neves traz-nos o sofrimento e o abandono das “Dores Urbanas”, dois indicativos para reflexão que salientamos nas imagens expostas. Trípticos que conjugam uma fria enunciação da dor com uma suposta violência, o que nos leva a questionar a verdade e a ambiguidade para além da imagem fotográfica, remete-nos para as histórias que se contam e se encenam mas também para as histórias que sentimos próximas da nossa experiência do quotidiano, e o estranhar situações não porque as desconhecemos mas porque cada qual as vivência na sua solidão urbana como por entre estranhos, inadequados e desconfortáveis.
Teresa Sá tem por referência o seu mundo imaginário, e concede-nos uma abertura para nele participarmos, daí que quando se mostra tanto parece que está como não está, situa-se num lugar intermédio, entre o privado e o público, entre o eu e os outros. Há ainda neste contexto de criação do fantástico uma tónica lírica e performativa que potencia relações com a literatura, o teatro e o cinema.
Paula Abreu apresenta-nos um trabalho que onde o paradoxo da sensação de mimetismo e do anonimato acerca de paisagens que, apesar de todos os referentes que contém a lugares-comuns, nos deixam uma sensação de incógnita. Temos a impressão de as conhecer, imaginamo-nos lá, mas sem a densidade da pertença. Lugares de solidão, de névoa, de ausência, cobertos com uma atmosfera quase pictórica, que lembra o sfumato, mas também o espectral, resultado da dispersão, condensação, difracção ou quaisquer outros efeitos de distribuição de feixes de luz com que compõe/decompõe a imagem.
Cristina Sevla