No Parking
No Parking é um projecto de fotografia e video realizado em 2001 durante uma estadia de três meses em Tóquio com uma bolsa da Fundação Oriente. Em 2004 foi editado o livro (No Parking, POC Editions. França). A exposição no Museu da Imagem de Braga teve o apoio da EPSON.
(…) As fotografias de No Parking são
cuidadosamente compostas em função de elementos constitutivos da paisagem urbana (edifícios, estradas, ruas, passagens para peões, linhas de metro à superfície, etc.) que reforçam a abstracção gráfica e dão um carácter estático às imagens. Porque os fios eléctricos que riscam o céu ou se acumulam no cimo dos postes eléctricos, o desenho no solo das passagens de peões que travam o movimento dos transeuntes, as estruturas em betão que sustentam as linhas de um monorail que desenha no espaço um duplo “S” alongado, as centenas de janelas que parecem carimbos pacientemente aplicados sobre a fachada de um edifício, são todos sinais que apontam para uma leitura geométrica do espaço urbano. Como se se tratasse de colocar uma grelha, ou de pousar uma tela sobre o espaço e de construir um terreno de experiências visuais onde elementos móveis estão prestes a entrar em cena. Como uma teia de aranha à espera de apanhar uma presa na sua armadilha. Ou como as linhas de pauta de música onde se inscrevem as notas e as marcações dos tempos: o presto para indicar os passos rápidos de uma pessoa que atravessa a rua enquanto outra caminha andante à sua frente, o rallentando de uma pessoa que sobe um lanço de escadas, o moderato de duas raparigas de uniforme que passeiam com as mãos atrás das costas, o allegro ma non troppo de jovens que atravessam uma esquina onde incidem os últimos raios de luz do dia. Podemos assim dizer que o título desta série tem o seu significado numa ligeira modificação de percepção, pois não se trata tanto de uma interdição de paragem (no parking) mas do prolongar do movimento (keep moving). (…)
- David-Alexandre Guéniot
O projecto “Portobello” reúne, na sua totalidade, cerca de 70 fotografias. Foi realizado ao longo de várias visitas no Algarve entre 2005 e
“Portobello” teve o apoio da Direcção Geral das Artes/Ministério da Cultura e da EPSON Portugal.
“As fotografias de Portobello mostram-nos como uma realidade se apresenta a si mesma tal como deseja existir, quer dizer, tal como se representa e se demonstra aos outros. As pessoas, as paisagens fotografadas participam, enquanto sujeitos e objectos, de uma iconografia pré-existente. O que vemos nestas fotografias são pessoas que são ao mesmo tempo actores e espectadores (de si mesmas), mas também pessoas e personagens, tal como as paisagens são ao mesmo tempo paisagens e cenários, tal como a realidade é ao mesmo tempo real e encenada, quer dizer, construída a partir de ficções (políticas, económicas, sociais, urbanísticas, paisagísticas, estéticas). Neste sentido, Portobello é um mundo real ficcionado. (…) Um mundo cujas personagens (os figurantes) parecem ter sido colocadas sobre um fundo de telas pintadas que imediatamente se desmoronam nas suas costas. Um mundo de cenários permutáveis (o que se passa aqui poderia passar-se em qualquer outro lado), em que a profundidade de campo mais não é do que um espaço propício ao aparecimento de miragens. Portobello, nome genérico que evoca um vago exotismo latino, cidade ou região (italiana? espanhola? corsa? portuguesa? brasileira? mexicana?), hotel ou discoteca em que imaginamos o interior fora de moda e o néon sobre a fachada, ou um cocktail colorido (ilustrado por uma foto) numa lista de bebidas (…)."
- David-Alexandre Guéniot (extractos do texto "PortobelloTM" publicado no livro "Portobello" de Patrícia Almeida.